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Imagem gerada por IA. |
Engraçado como o discurso “a música de antigamente é que era boa” parece ter baixado um espírito de A Viagem na galera. É tipo um looping eterno, uma entidade que se manifesta sempre que alguém da nova geração ousa ser diferente.
Aí surgem os comentários indignados:
“Desde criança eu já ouvia Tom Jobim!”
“Que vergonha, nunca Leu Monteiro Lobato, Machado de Assis...”
— Como se a formação cultural fosse uma olimpíada de precocidade, e não uma experiência individual, cheia de contextos, bolhas e caminhos possíveis.
Gente que confunde referência com obrigação, e gosto com currículo.
Arte não é uma linha do tempo que a gente tem que seguir religiosamente. É vivência. É descoberta. É errar e mudar de ideia.
Achar que cultura de verdade é aquela que todo mundo deveria conhecer (e valorizar do mesmo jeito) é basicamente dizer que a cultura não é escolha, é imposição. E que se você não passou pela “trilha certa”, então você tá errado, é burro, é raso.
Spoiler: você não tá.
Spoiler 2: quem diz isso geralmente não tem tanto repertório quanto pensa — só tem medo de não ser mais especial.
É claro que é lindo quando alguém conhece Dominguinhos, Tom Jobim, Chico, Elza, Caetano. Mas também é lindo quando alguém descobre outra coisa. Outro som. Outro ritmo. Outro caminho.
A cultura não tá ameaçada por quem não conhece o “cânone”. Ela tá ameaçada por quem acredita que só existe um.
Nem toda ignorância é ausência de repertório. Às vezes, é só uma escolha diferente da sua.
E tudo bem.
O nome disso é pluralidade.
Mas pode chamar de liberdade também.