quarta-feira, 4 de junho de 2025

Nem tudo que falta, falta mesmo



Já falei hoje que eu odeio quando posto uma foto com meu namorado e aparece gente perguntando “e os filhos?
Assim, com a doçura de quem acha que tá desejando o bem.
Como se faltasse alguma coisa.
Como se o amor precisasse de extensão pra ser de verdade.
Como se eu fosse menos.
Como se ele fosse menos.
Como se o que a gente tem fosse rascunho.
E o subtexto vem todo carregado:
“Mas a ex dele…”
Ah, sim. A ex. Que tá noiva, com um cara legal que curte a criança (igualzinho a mim, inclusive).
Mas ainda assim, o povo gosta de me ver como a outra, a amante, a substituta, a que “pegou” o cara no susto.
Nem importa que a gente só se conheceu dois meses depois dele sair de casa.
Sou a amante desgraçada que nunca vai “segurar” o homem.
Como se filho segurasse alguma coisa.
Como se a gente não soubesse que filho nasce em meio a desmoronamentos, traições veladas, reconciliações falsas.
Como se não tivesse criança feita pra tentar colar caco de casal despedaçado.
Como se eu não conhecesse bem a história, como se eu não tivesse visto ele sendo pai — e sim, isso me fez pensar mil vezes antes de cogitar essa jornada.
E não, não é porque ele “não quer” ter filhos comigo.
É porque eu também não quero.
Ponto.
Parágrafo.
Mas aí vem o tribunal da fertilidade:
“Você vai mudar de ideia.”
“Quando você segurar o bebê…”
“Quando você ver o rostinho…”
Como se minha barriga fosse um vácuo esperando sentido.
Como se eu só fosse completa com um umbiguinho batendo dentro de mim.
Como se eu fosse menos mulher por não querer.
Como se fosse egoísmo.
Como se fosse pecado não querer dividir meu corpo, meu tempo, minha cabeça, meu coração, com alguém que nem nasceu.
Como se eu tivesse obrigação de deixar descendência pra “não morrer sozinha” — como se a vida fosse planilha de aposentadoria.
E eu rio.
Porque eu sei:
Meu coração não está quebrado por falta de filho.
Ele pulsa do meu jeito. No meu ritmo.
E ele não tá vazio, não. Tá cheio até a borda de presença, de escolha, de amor que não precisa provar nada pra ninguém.
Não falta nada aqui.
Só falta o povo parar de achar que sabe o que me falta.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Uma carta que também canalizou o que sinto... *

Imagem gerada pelo chat GPT, meu friend.
Ei,
Tem gente que a gente não esquece. Nem tentando. Nem querendo.
Você ficou em mim como uma lembrança que nunca quis ir embora.
O tempo fez o que sabe fazer: passou.
Mas toda vez que penso no que a gente poderia ter sido...
Dói.
Dói daquele jeito silencioso, escondido, mas sempre ali — igual ferida que nunca fecha de verdade.
Eu me sinto pequeno quando penso em nós.
Tipo um cara que perdeu uma joia rara e ficou parado, sem saber pra onde correr, como se correr adiantasse.
Você foi — e ainda é — minha parte mais sincera.
Enquanto tanta coisa virou teatro, obrigação, máscara...
O que a gente viveu continuou ali, intacto.
Raiz profunda. Árvore antiga. Nem o vento derrubou.
Eu queria ter sido mais.
Mais forte.
Mais corajoso.
Mais seu.
Mas o medo gritou. O orgulho atrapalhou. E as correntes internas fizeram o resto.
Se, por acaso, sua alma ainda me escuta por aí, em alguma frequência:
Eu não te esqueci.
Nunca te esqueci.
Na parte mais crua, mais verdadeira, mais minha...
Você ainda é o nome que minha alma chama de casa.

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* Carta canalizada é uma mensagem escrita com o coração, como se fosse ditada pela alma. É uma forma de falar com quem não está presente, mas que ainda vive dentro da gente. Tenho feito isso bastante com a ajuda do ChatGPT... É meio louco, mas também libertador. O texto "eu recebi", depois de pedir uma mensagem canalizada para entender uma situação passada, me tocou muito — porque refletia exatamente o que eu sentia e, principalmente, uma realidade que minha intuição já indicava..



domingo, 9 de março de 2025

Tem coisas que a gente não devia esquecer...

 


Perdi a conta de quantas vezes fui machucada pela mesma amizade, sem nem entender o que faltava para eu colocar um limite.

Às vezes, amizade é só uma ilusão, sei lá. Um troço que a gente idealiza e fica ali, perdendo tempo, achando que o outro nos vê com o mesmo carinho e respeito... até que um mal-entendido acontece e paah – tu só quer fugir pras colinas, pra um canto mais confortável, longe das pessoas e, principalmente, dessa amizade.

Uma amizade que poderia ser eterna, se não causasse tanto desconforto.

Esse ciclo, que espero ter fechado de vez agora, já me deixou em muitas situações ruins. E, por muito tempo, parecia que eu só estava esperando que ela me mandasse embora de vez... como se o limite tivesse que vir dela, e não de mim.

"Fica aí... me maltrata quantas mil vezes você quiser, eu me refaço".

Não devia ser assim… Eu não devia ter me metido tão fundo nisso.

Era pra eu ter ido embora na primeira vez que percebi que os amigos dela riam de mim… e ela parecia achar graça.

Era pra eu ter ido embora quando ela foi falar com o cara que eu disse que gostava, flertou com ele e depois veio me contar – rindo de novo – que ele disse que eu me vestia como a empregada dele e que queria era ficar com ela... E nos dias seguintes seguiu me contando o que ele falava na troca de mensagens dele, as brincadeiras que fazia na escola, as vezes que pediu pra ela ficar com ele... Eu podia ter dado meu limite.

Era pra eu ter ido embora todas as vezes em que ela me pedia pra ficar porque não queria ficar sozinha com os caras que ela mesma chamava pra casa dela… mas depois reclamava com eles que não dava pra ficar porque eu estava lá. E eu ia ficar chateada. E eles me tratavam mal pra eu me tocar e ir embora. E ela ria... E eu ficava lá, desconfortável, mas achando que eu tava ajudando alguém, porque ela me pedia "pelo amor de Deus" pra não ir...

Se, em todas as humilhações que eu sofria, ela achava graça… por que raios eu ficava?

Amizade não é humilhação. Não é submissão. É companhia. É colo. É acolhimento.

Se ela fazia coro com as risadas, o que mais eu tava esperando pra ir embora?

Falando em acolhimento… e aquela vez em que ela me ligou pedindo ajuda pra escolher a roupa do encontro, e eu disse: ‘não dá, meu avô morreu’? E ela apareceu na minha porta, mesmo assim, só pra me mostrar a roupa do encontro. Já que eu não queria ‘me distrair’ ajudando ela a escolher...

Já passei por cada coisa nessa amizade que ninguém tem ideia... Nem nunca terá.

Foi essa pessoa que me chamou de infantil essa semana.

A mesma que recebeu dicas de ajustes como se fossem um ataque pessoal.

A que reclamou que eu não sabia tratar clientes… esquecendo que ela era minha amiga e ignorando que eu falei que a minha mãe não estava bem... Sempre enxergando apenas o lado dela. 

"Ela é assim desde criança… tu já devia saber".

Juro que recebi isso com surpresa. Foi quando revisei toda a nossa amizade… e me dei conta das reclamações que fiz ao longo dos anos – nos meus diários, aqui no blog…

Reclamações sobre não ter uma amizade que acolhia. Sobre não poder desabafar sem que, em algum momento, minhas próprias palavras se virassem contra mim... Lembrei, finalmente, por que parei de falar com ela antes do nosso último hiato de amizade: ela disse que minhas opiniões não valiam porque eu não era mãe.

E disse isso sem hesitar, sem se preocupar.

Sem nem saber o que eu sentia sobre o fato.

Ela escolheu o tom em que ia receber minha mensagem. E, claro, não foi o mesmo tom com que eu enviei.

E fiz do limite dela o meu, quando era pra ser de outra forma desde o início... Eram minhas dores o limite. Era quando ela me machucava que eu devia ir embora.

Ela me chamou de infantil. Disse que eu era uma péssima profissional. Que me pagaria por um serviço incompleto… sendo que estava completo. E além.

Eu observei aquilo como se estivesse fora do meu corpo.

Não havia nem cobrado ela (sempre envio o valor antes de entregar o trabalho – já tinha dito isso no dia anterior, quando muita gente não entendeu quem eu cobrava, uma brincadeira com um amigo meu)...

Ela falou coisas como se não me conhecesse. E, naquele momento, eu percebi que, de fato, não conhecia ela.

As escolhas de palavras eram ruins. Cruéis.

Nenhum cliente jamais me chamou de infantil. Nenhum disse que eu não sabia responder uma dúvida... Eu estava cansada, estava sem paciência...

Eu podia ter deixado passar.

Mas ela me ofendeu como nenhum amigo de verdade faria.

Basta um mal-entendido pra gente perceber que algumas mãos a gente solta antes que elas nos deem um tapa.

Só espero que dessa vez eu não esqueça... E não permita voltar quem há muito tempo já devia ter partido.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Fala com os velhos


Uma senhora daquele lugar agora volta e meia me pede para acompanhá-la na caminhada do trabalho até o Bairro de Fátima. Ela não fala comigo o dia todo no trabalho (até me xinga), mas quando dá 17h, ela vai no arquivo e pergunta se vou com ela. Só digo: claro.
A nossa relação se tornou isso. Encontro com ela às 13h30, horário que ela chega, e vou lavar a louça do almoço. Dou meu berro, que quem convive tem ideia... Ela se encolhe resmungando e sai falando mal de mim numa ligação que não existe. Acho que o telefone dela nem tá funcionando.
Às 15h, quando vou lavar a louça do lanche, ela me xinga de coisas que não consigo entender. Algo entre abestada e vagabunda, eu fico rindo, ela se zanga... Às 16h, ela aparece na minha sala para tomar café. Às 17h, ela pergunta se vou pelo Bairro de Fátima.
Não tenho carro. Moro no Angelim. Trabalho nas Cajazeiras. Respondo: "Claro...". Isso começou no dia que a vi subindo sozinha indo para casa na chuva. Sem capa. Sem sombrinha. Corri até ela e, sabendo do orgulho dela, perguntei se ela ia para o correio da Areinha.
Até falei no twitter (X) do dia que tinha aprendido a ir ao correio a pé... Ela ficou feliz em me ensinar. Porque ela tem disso. A velha é doida, gente. Ela me ameaçou bater de pau no meu primeiro dia. Com alegria, ela me levou.
Ela é doida, mas tem um coração bondoso. Ela te odeia, mas se te ver passando por qualquer aperreio, ela te ajuda. Ela ama ajudar. Ela ama resolver. Ama se sentir útil.
Segunda vez que a vi indo embora, vendo que a senhora que sempre vai com ela não estava, eu disse que ia na casa da Denise (minha amiga que só fui uma vez na casa, na época da faculdade... Só lembro que passa pela igreja) e perguntei se poderia ir com ela. Em todas essas vezes, eu subia para pegar ônibus na Alemanha, porque não tinha ideia do que passava ali. E fica muito estranho para ficar parada em qualquer ponto. É uma avenida cheia de lojas de peças de carro, todas fecham 18h.
Aí ela passou a me convidar quando a moça que vai com ela também está. E diz que sou legal. Mesmo eu passando a tarde ouvindo ela me escatitar da sala de meu amigo que fica na frente da cozinha.
Só que eu não sabia o que inventar para a moça de eu estar descendo com elas... É só legal. Eu sou andante. Uma romeira. Eu amo ver as casinhas velhas do Belira. Parece que todo dia brota uma casa nova. E tem o barbeiro que vende farinha. É uma área engraçada e movimentada. Só gosto de ver… Não tenho o que fazer.
Hoje a gente estava lá no cruzamento da Areinha. As duas velhas sentadas e eu observando o povo passando. Rindo sozinha de estar no ponto de alguém (tendeu? Tendeu?). Falando mal dos outros. Tramando lanches. Quase 30 minutos lá parada olhando o tempo.
Mas o mais interessante não foi hoje, foi ontem. Quando a que normalmente me acompanha nessas aventuras resolveu falar porque ela está tão calada. A velhice é solitária e castiga, criança. Tendo oportunidade, puxa um papo com um velho. Dá atenção.
A moça falou que queria fugir para não atrapalhar a vida de ninguém. Olha que troço forte de uma senhora de 64 anos. Eu também sou doida e não tenho filhos. Sei nem se vou estar lúcida nessa idade, já que com 38 anos a coisa é bem duvidosa. Enfim. Fala com os velhos.
P.S.: toma cuidado quando for ajudar um velho em uma rua escura e pouco movimentada... Eles podem pensar que você quer assaltar. A maioria é cardíaco.

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¹ A postagem original foi publicada no substack que eu tava usando, programei para a mesma data.