Já falei hoje que eu odeio quando posto uma foto com meu namorado e aparece gente perguntando “e os filhos?”
Assim, com a doçura de quem acha que tá desejando o bem.
Como se faltasse alguma coisa.
Como se o amor precisasse de extensão pra ser de verdade.
Como se eu fosse menos.
Como se ele fosse menos.
Como se o que a gente tem fosse rascunho.
E o subtexto vem todo carregado:
“Mas a ex dele…”
Ah, sim. A ex. Que tá noiva, com um cara legal que curte a criança (igualzinho a mim, inclusive).
Mas ainda assim, o povo gosta de me ver como a outra, a amante, a substituta, a que “pegou” o cara no susto.
Nem importa que a gente só se conheceu dois meses depois dele sair de casa.
Sou a amante desgraçada que nunca vai “segurar” o homem.
Como se filho segurasse alguma coisa.
Como se a gente não soubesse que filho nasce em meio a desmoronamentos, traições veladas, reconciliações falsas.
Como se não tivesse criança feita pra tentar colar caco de casal despedaçado.
Como se eu não conhecesse bem a história, como se eu não tivesse visto ele sendo pai — e sim, isso me fez pensar mil vezes antes de cogitar essa jornada.
E não, não é porque ele “não quer” ter filhos comigo.
É porque eu também não quero.
Ponto.
Parágrafo.
Mas aí vem o tribunal da fertilidade:
“Você vai mudar de ideia.”
“Quando você segurar o bebê…”
“Quando você ver o rostinho…”
Como se minha barriga fosse um vácuo esperando sentido.
Como se eu só fosse completa com um umbiguinho batendo dentro de mim.
Como se eu fosse menos mulher por não querer.
Como se fosse egoísmo.
Como se fosse pecado não querer dividir meu corpo, meu tempo, minha cabeça, meu coração, com alguém que nem nasceu.
Como se eu tivesse obrigação de deixar descendência pra “não morrer sozinha” — como se a vida fosse planilha de aposentadoria.
E eu rio.
Porque eu sei:
Meu coração não está quebrado por falta de filho.
Ele pulsa do meu jeito. No meu ritmo.
E ele não tá vazio, não. Tá cheio até a borda de presença, de escolha, de amor que não precisa provar nada pra ninguém.
Não falta nada aqui.
Só falta o povo parar de achar que sabe o que me falta.