sábado, 1 de fevereiro de 2025

Fala com os velhos

Imagem gerada no Copilot depois de muita briga com o aplicativo e avisar ele várias vezes que a velha não é tão simpática e eu não sou tão magra…

Uma senhora daquele lugar agora volta e meia me pede para acompanhá-la na caminhada do trabalho até o Bairro de Fátima. Ela não fala comigo o dia todo no trabalho (até me xinga), mas quando dá 17h, ela vai no arquivo e pergunta se vou com ela. Só digo: claro.
A nossa relação se tornou isso. Encontro com ela às 13h30, horário que ela chega, e vou lavar a louça do almoço. Dou meu berro, que quem convive tem ideia... Ela se encolhe resmungando e sai falando mal de mim numa ligação que não existe. Acho que o telefone dela nem tá funcionando.
Às 15h, quando vou lavar a louça do lanche, ela me xinga de coisas que não consigo entender. Algo entre abestada e vagabunda, eu fico rindo, ela se zanga... Às 16h, ela aparece na minha sala para tomar café. Às 17h, ela pergunta se vou pelo Bairro de Fátima.
Não tenho carro. Moro no Angelim. Trabalho nas Cajazeiras. Respondo: "Claro...". Isso começou no dia que a vi subindo sozinha indo para casa na chuva. Sem capa. Sem sombrinha. Corri até ela e, sabendo do orgulho dela, perguntei se ela ia para o correio da Areinha.
Até falei no twitter (X) do dia que tinha aprendido a ir ao correio a pé... Ela ficou feliz em me ensinar. Porque ela tem disso. A velha é doida, gente. Ela me ameaçou bater de pau no meu primeiro dia. Com alegria, ela me levou.
Ela é doida, mas tem um coração bondoso. Ela te odeia, mas se te ver passando por qualquer aperreio, ela te ajuda. Ela ama ajudar. Ela ama resolver. Ama se sentir útil.
Segunda vez que a vi indo embora, vendo que a senhora que sempre vai com ela não estava, eu disse que ia na casa da Denise (minha amiga que só fui uma vez na casa, na época da faculdade... Só lembro que passa pela igreja) e perguntei se poderia ir com ela. Em todas essas vezes, eu subia para pegar ônibus na Alemanha, porque não tinha ideia do que passava ali. E fica muito estranho para ficar parada em qualquer ponto. É uma avenida cheia de lojas de peças de carro, todas fecham 18h.
Aí ela passou a me convidar quando a moça que vai com ela também está. E diz que sou legal. Mesmo eu passando a tarde ouvindo ela me escatitar da sala de meu amigo que fica na frente da cozinha.
Só que eu não sabia o que inventar para a moça de eu estar descendo com elas... É só legal. Eu sou andante. Uma romeira. Eu amo ver as casinhas velhas do Belira. Parece que todo dia brota uma casa nova. E tem o barbeiro que vende farinha. É uma área engraçada e movimentada. Só gosto de ver… Não tenho o que fazer.
Hoje a gente estava lá no cruzamento da Areinha. As duas velhas sentadas e eu observando o povo passando. Rindo sozinha de estar no ponto de alguém (tendeu? Tendeu?). Falando mal dos outros. Tramando lanches. Quase 30 minutos lá parada olhando o tempo.
Mas o mais interessante não foi hoje, foi ontem. Quando a que normalmente me acompanha nessas aventuras resolveu falar porque ela está tão calada. A velhice é solitária e castiga, criança. Tendo oportunidade, puxa um papo com um velho. Dá atenção.
A moça falou que queria fugir para não atrapalhar a vida de ninguém. Olha que troço forte de uma senhora de 64 anos. Eu também sou doida e não tenho filhos. Sei nem se vou estar lúcida nessa idade, já que com 38 anos a coisa é bem duvidosa. Enfim. Fala com os velhos.
P.S.: toma cuidado quando for ajudar um velho em uma rua escura e pouco movimentada... Eles podem pensar que você quer assaltar. A maioria é cardíaco.

____________________
¹ A postagem original foi publicada no substack que eu tava usando, programei para a mesma data.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comenta aí! *-*