Dica de leitura - Amores e desamores em querelas jurídicas (Rosiana Freitas da Silva)

Para que vocês entendam bem do que se trata o livro, o título com subtítulo é "Amores e desamores em querelas jurídicas - relações de gêneros em processos-crime de defloramento – São Luis (1890-1925)". O livro fala sobre os crimes de defloramento que aconteceram em uma época em que tudo o que a mulher fazia era condenável. A mulher era considerada indigna até por andar sozinha na rua.
O livro é científico, mas acaba sendo interessante porque traz fatos curiosos da minha terra (São Luís-MA) em um período muito, muito, muitooooo distante.
Uma das maiores curiosidades que o livro traz é o fato de que a maior parte dos "crimes de defloramento" aconteciam em festejos religiosos... Tipo, as meninas eram todas muito recadas, mas em época de festejo ficavam doidas, levantavam as saias e davam mesmo!... Depois procuravam a justiça pra conseguir casar pra reparar o dano, recuperar a honra...
O livro conta detalhes de São Luís nessa época (1890-1925), conta um pouco sobre a criação de alguns bairros, a forma como a mulher era tratada... Ah, e a visão de que os pobres só eram pobres porque eram preguiçosos! Tipo, eu sou pobre porque eu quero, cara! 
Enfim...
O livro é bem curtinho e tem uma linguagem boa de ler, não é uma linguagem científica chata, saca?

SINOPSE
São Luis, 1890-1925: com desdobramento de uma política nacional, vê-se disseminar uma série de discursos e práticas que pretendiam construir uma sociedade civilizada e ordeira. Nesse cenário, a família e as relações de gênero que lhe dão suporte compuseram um dos eixos alvo de discursos e técnicas normalizadoras. A questão da hora feminina e da necessidade de sua proteção toma então uma posição de destaque. Nas delegacias e nas salas de audiência judicial, mulheres “desonradas” e/ou seus familiares buscaram soluções para os conflitos nos quais se desdobram suas “histórias de amor”. São esses sujeitos envolvidos em conflitos amorosos e sexuais que esbarram nos fóruns de julgamento, objeto maior deste livro. Quem eram essas pessoas? O que queriam? Como seus interesses interagiram com o objetivo disciplinador das práticas judiciárias? Quais as implicações da classe e de raça/etnia na forma como internalizaram, filtraram e / ou rejeitaram as identidades de gênero hegemônicas defendidas pelos juristas? Respostas a algumas dessas perguntas estão presentes neste livro.
FRASES
"Deus deu ao homem um trono, para a mulher um altar. Deus concedeu o poder de subjugar ao homem, e deu bondade à mulher. O homem para iludir, a mulher para acreditar" (JUÍZO DA SEGUNDA VARA CRIMINAL DA CAPITAL, 1924)
"Foi durante o festejo de Nossa Senhora dos Remédios que Honorata, conforme argumentou, entregou-se a Francisco Ferraz [...]. Foi durante os festejos de Reis do ano de 1917 que a operária Maria José Moreira, de 19 anos, encaminhou-se para a Praia dos Remédios com Paulo Félix, 19 anos, operário, e com ele manteve relações sexuais [...]. Também durante o festejo de São Sebastião, na povoação do Anil, em 1902, Apolinária Vivência, 16 anos, se "entregou" a seu então namorado Antonio Pedro, sapateiro, 18 anos [...]". (SILVA, 2009, p. 94).